terça-feira, 28 de abril de 2009

Liberdade é maior arma contra pirataria de música e vídeo na web


Assim como os criadores do Pirate Bay, somos todos piratas na compra de música e vídeo pela internet e o extremismo da legislação atual é a base do problema. A opinião é de Lawrence Lessig, uma das maiores autoridades do mundo em direitos autorais na era digital. A razão pela qual somos todos piratas hoje é que a lei ainda é baseada na reprodução de cópias.

Isto fazia sentido nos séculos 18 e 19, pois a legislação lidava com cópias feitas por meio de “novas tecnologias” da época, que não estavam ao alcance de todos. Ao se focar a lei de direitos autorais nas cópias criava-se um modelo de negócios que incentivava o trabalho criativo. Isto fazia todo o sentido na ocasião, porém 300 anos nos separam desta realidade.

Avaliando o histórico do consumo do entretenimento digital, percebemos a clara e evidente ascensão em seus mais variados formatos e mídias como CDs, DVDs, Blu-Ray, IPod, TV Digital e via Internet (streaming e download – Radio Web, Móbile Radio, ITunes e Vídeo on Demand – VoD). Igualmente, a demanda por respostas rápidas para o ajuste dos modelos de negócios deste segmento ao mundo digital é cada vez mais intensa e crucial para a perenidade do setor.

As gravadoras, por exemplo, demoraram muito a se adaptar à internet e pagaram demasiadamente caro por isso, abrindo espaço para uma cultura de download “não oficial” de suas músicas o que ocasionou um massivo encolhimento de seu mercado, que, atualmente, representa apenas 30% do seu tamanho há dez anos.

A indústria da música insistiu por muito tempo em criar mecanismos de proteção de cópia para as vendas online, enquanto as versões de mais alta qualidade adquiridas em CD eram vendidas sem nenhuma forma de proteção de cópia. Desta forma, as gravadoras acabaram penalizando os e-consumidores, que, devido aos dispositivos de controle digital de propriedade autoral ou DRM (Digital Rights Management), tinham acesso limitado às estes arquivos, enquanto os usuários de músicas "não oficiais" tinham liberdade total no uso do mesmo conteúdo.

Finalmente, as gravadoras entenderam que os e-consumidores estão dispostos a pagar um preço justo pelas músicas digitais, que serão gravadas em todos os dispositivos e mídias disponíveis (Mac ou PC, iPod ou MP3 Player, Pendrive, CD, etc), sem a preocupação com questões relacionadas a formatos, direitos ou permissões de uso.

A hegemonia do DRM começou a ser abalada em 2007, com o lançamento iTunes Plus e das Amazon MP3, ambos livres de DRM.

Então, eis que o "grand finale" virá da Apple, ao anunciar durante o Macworld Expo deste ano que o iTunes Store será finalmente libertado do DRM (going DRM free ) - suportado pela vitoriosa estratégia de vendas "one-price-fits-all" da Apple. Assim, nos próximos meses, o robusto catálogo de 10 milhões de músicas do iTunes Store migrará para versões "DRM-free".

Desta forma, depois de anos de dissabores, tanto para o e-consumidor, quanto para a própria indústria musical no cenário de vendas online, finalmente as gravadoras descobriram "o óbvio", ou seja, a liberdade deve ser respeitada como uma cláusula pétrea na Internet e, principalmente no atual cenário de convergência digital.

Finalmente, ao parar de penalizar o e-consumidor de conteúdo digital pago, nivelando sua experiência à vivenciada com o conteúdo pirata, as Gravadoras contribuirão para a volta do consumo "legalizado" de música digital e, consequentemente, ao aumento do seu faturamento de vendas online.

Por Gerson Rolim

Fonte: Gazeta Mercantil - São Paulo, 23 de abril de 2009

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